Claudio Dauelsberg. Foto: Chico Gadelha.
Nas imagens, temos dois momentos do shows de Rick Estrin e Claudio Dauelsberg, que aconteceram no domingo, 06, no Festival de Jazz&Blues de Guaramiranga.
Dauelsberg em sua apresentação mostrou suas virtudes de pianista revisitando o Pixinguinha de “1×0” e “Ingênuo” e lembrou Dave Brubeck nas construções de tempos quebrados, entre repetições e síncopes, de “Canto dos hebreus”, em estreita afinação com o baixo de Giffoni e a performance de Caíto na bateria. Também mostrou uma abordagem suave, mas diferenciada, de “Chovendo na roseira” e assistiu Marcondes carregar “Insensatez” do erudito para os ecos do samba.
E quem esperava pelo lado mais jazz do festival pôde conferir um dos pontos altos do evento até o momento: a versão de Dauelsberg e companhia para “Confirmation”, de Charlie Parker. “Ele dividiu o século em dois e criou o bebop, um dos maioers desafios para quem improvisa, porque obriga a pensar muito rápido”, contextualizou o pianista, para em seguida demonstrar, na prática, a sedução e os desafios do ritmo, com o baixo de Giffoni ainda mais hipnótico na condução que no improviso.
Com passagem pela autoral “Ventos do sul”, homenagem aos ritmos como a milonga e o chamamé, Claudio encerrou seu show com outro clássico do jazz: “Spain”, de Chick Corea. “Foi um grande incentivador da minha carreira”, revelou, agradecendo ainda a convivência com colegas professores e com os alunos, nas oficinas ao longo da semana. Dauelsberg teve ainda de voltar para o bis, com a riqueza rítmica de “Incompatibilidade de gênios” – “o hino dos alunos nesse festival”. Claudio Dauelsberg, Adriano Giffoni e Caíto Marcondes mostraram, no palco, grandes lições.
Rick Estrin. Foto: Chico Gadelha.
Um espetáculo, em todas as dimensões da palavra, ao som do velho e bom blues. O gaitista, cantor e compositor californiano Rick Estrin mostrou por que segue como um dos nomes mais aclamados pelos blueseiros, desde que recebeu as bênçãos de ninguém menos que Muddy Waters, na Chicago dos anos 70. Em plena forma aos 61 anos, Estrin fechou uma noite de shows memoráveis no Festival Jazz & Blues, apresetando-se após o pianista carioca Claudio Duelsberg. E levando a plateia a aplaudir de pé, em vários momentos, um show que, pela música em si, já seria impressionante. Mas que, bem à americana, cuida de agregar vários outros elementos, no melhor conceito de “showtime”.
Do figurino à malemolência do gaitista no palco, da sonoridade encorpada da banda com acento próprio à disposição constante de brincar e interagir com o público, Rick e companhia ganharam a plateia desde cedo. São inúmeros os momentos em que o músico incorpora o personagem, entre caras, bocas e, mesmo com um português restrito ao “obrigado”, pedidos para o público vibrar junto.
Nem precisava. Lotada, a Cidade Jazz e Blues aplaudiu de pé a performance de Estrin e companhia, elegendo, além do gaitista, o guitarrista Chris “Kid” Andersen, norueguês radicado nos Estados Unidos, como o grande destaque da noite. Grandalhão, desajeitado, Andresen roubou a cena tanto pela inventividade e pela energia de seus solos, quanto pelo carisma, reconhecido pelo público. Foram muitos os duos de frases e caretas com Estrin, além de uma brincadeira com o baixista Lorenzo Farrel, em uma troca de instrumentos improvisada.
Dançando no palco desde o início do show, com “Wrap it up”,Rick e os Nightcats simplesmente arrebataram nos solos em “You´re gonna lie” – com direito a aplausos de pé para o batera J. Hansen, usando luzes nas baquetas para mostrar a velocidade das marcações e do improviso, em cadência acelerada. Foi o auge da apresentação que, visitando várias vertentes do blues, passou pelo slow com espaço para a gaita brilhar e voltou ao clima dançante com “My next ex-wife”, sempre com Estrin “duelando” com Andersen. Que torna a incendiar ao comandar os vocais e a guitarra em “Taco Cobbler” – um show à parte.
De volta ao palco, Estrin ainda tem tempo de mandar “You can´t come back”, fechando um show pra entrar na lista dos mais marcantes da história do festival. E como a plateia exigiu bis, o gaitista voltou para uma performance solo, fechando a noite de blues, energia e diversão.
Texto de Dalwton Moura, jornalista e crítico musical; com algumas intervenções de Joanice Sampaio