Após apresentar no Centro Cultural do Banco do Nordeste “O fantástico literário em Murilo Rubião”, o arte-educador Carlinhos Perdigão ministra “Moreira Campos: contista do Ceará”, no Centro Cultural Bom Jardim. Sobre Moreira Campos, Perdigão destaca que seus escritos tornaram-se um denso painel da literatura produzida no Ceará no século XX. E que é dentro de todo esse panorama que a leitura dramática se concretiza. Nesse sentido, segundo ele, “serão explorados temas relacionados ao erotismo, ao fatalismo e ao inexplicavelmente místico, aspectos que na produção de Moreira Campos possuem uma forte conexão”. A leitura dramática será realizada nesta sexta-feira, 02 de fevereiro, às 15h, no Centro Cultural Bom Jardim. Entrada gratuita. (Foto: Divulgação)
Em torno do evento, o arte-educador afirma ainda que deseja destacar os pontos centrais do trabalho literário de Moreira Campos. Assim, sustenta: “irei focar – através de leituras dialogadas intra e extra-textuais com a plateia presente – questões ligadas à natureza e ao ser humano, que em Moreira Campos estão intimamente associados, formando um todo orgânico”.
Sobre Moreira Campos
Moreira Campos é um dos maiores escritores cearenses. Nascido na cidade de Senador Pompeu, no interior do Ceará, José Maria Moreira Campos (1914 – 1994) teve sua produção literária comparada à do genial Machado de Assis. Formado em Direito e em Letras, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará; tendo pertencido ao Grupo Clã e à Academia Cearense de Letras.
Publicou diversas obras, dentre as quais Vidas Marginais, Portas Fechadas, As Vozes do Morto, O Puxador de Terço, Os Doze Parafusos, A Grande Mosca no Copo de Leite e Dizem que os Cães veem Coisas. Além disso, participou de diversas antologias nacionais, e alguns de seus contos foram traduzidos para o inglês, francês, italiano e espanhol.
Conversa Cult com Carlinhos Perdigão
Papo-Cult fez ainda algumas perguntas a Carlinhos Perdigão, abordando suas atuações como arte-educador:Papo-Cult fez ainda algumas perguntas a Carlinhos Perdigão, abordando suas atuações como arte-educador.
01 – Você é um pesquisador de diversas linguagens, e tem uma conexão forte com a literatura. Nesse sentido, gostaria de saber se, além de Moreira Campos, há outros escritores cearenses que fazem parte de suas leituras.
Diversos escritores permeiam meu interesse pela literatura aqui produzida. Dentre eles destaco Patativa do Assaré e Carlos Dantas. O primeiro era um literato genial. Refutava a escrita na forma padrão da gramática, e sabia ser importante assumir seu lado sertanejo. Fazia isso como uma postura política, para chamar a atenção das pessoas em torno dos problemas que dificultam a vida de quem reside no sertão. Dantas, por sua vez, é um escritor acadêmico, doutor em Teoria da Literatura pela Universidade de Santiago de Compostela, pesquisa o cordel e suas origens de uma forma bacana e aprofundada. Há ainda outros, como Pedro Salgueiro, que constrói seus textos com temas misteriosos, aspecto que impressiona e impulsiona o leitor. Todos aí são autores que merecem leituras atentas e prazerosas, aliás, como devem ser as recepções em torno dos textos.
2 – Há projetos literários seus que são misturados ao cinema; assim, tematizam o romance-reportagem, por exemplo. Afora outros, em que o foco principal é a linguagem cinematográfica, como o Neorrealismo italiano. Assim, gostaria de saber qual o objetivo desses trabalhos. Além disso, gostaria que analisasse a filmografia cearense em seu momento atual.
Observo que a literatura é valorizada pela linguagem cinematográfica, que busca trabalhar o universo da palavra apresentando-a em meio aos recursos imagéticos e musicais. Assim, unindo literatura e cinema, desejamos trabalhar o desenvolvimento da leitura e de leitores participativos e interferentes. Quanto à filmografia cearense: ocupa cada vez mais espaços, como é o caso da produção fílmica de diretores como Halder Gomes e Émerson Deo Cardoso. E isso realmente é muito interessante, haja vista o poder que o audiovisual tem de veicular narrativas apondo-lhes imagens relacionadas aos espaços vivenciados. Nos EUA, por exemplo, o cinema é política estatal há mais de um século, pois lá compreenderam a força discursiva que a cinematografia possui, seja de difundir valores, de relacionar o filme a projetos turísticos e de entretenimento, ou até mesmo de veicular a língua, sempre um fator ideológico e que vai muito além do simples ato de comunicar mensagens; na realidade, como nos informa a Pragmática, a língua é uma forma de ação sobre o mundo e sobre o outro!
3 – E sobre a educação brasileira, o que teria a comentar em torno da universidade que queremos?
De uma forma em geral, penso numa instituição de ensino superior que possa valorizar e priorizar uma espécie de “educação-serviço”, como assim apregoava o mestre Paulo Freire. Nesse sentido, vejo-a como parte integrante e constitutiva de um tecido social democrático, a potencializar princípios de igualdade, de justiça, de liberdade, de autonomia, de responsabilidade, enfim: de passar informações aos cidadãos, e a negar processos de construção de conhecimento baseados na lógica do mercado e na ideologia pós-moderna, que subordina o estudo ao descartável.
4 – Você faz um trabalho no curso de Comunicação Social da Faculdade Cearense (FaC) em que valoriza a produção do artista cearense fora da grande mídia. Comente sobre isso.
Sou professor da disciplina de Língua Portuguesa na FaC já há 12 anos. Quando fui formatá-la, fiquei pensando em realizar nela um trabalho que abordasse o artista cearense fora da grande mídia. Em torno dessa ação, o objetivo sempre foi valorizar o talento de fazedores artísticos do estado – por lá já passaram padres poetas, borracheiros cantores, tatuadores, grafiteiros, palhaços, contadores de histórias, entre outros -, muitas vezes esquecidos e sem reconhecimento algum, ao mesmo tempo em que chamo os alunos do curso de Comunicação Social para (re)conhecerem com mais profundidade a arte aqui produzida, além de atrair a atenção deles para a responsabilidade que terão como futuros formadores de opinião. Em suma, a tentativa com toda essa temática – aliás, que agrada sempre aos estudantes – é realizar um trabalho didático que entretenha, eduque, politize – pois aborda campos intelectuais periféricos, saindo da indústria cultural de massa – e deixe longe a mediocridade.
5 – Finalizando, como observa a importância de Moreira Campos para a literatura brasileira?
Campos é um dos maiores escritores deste país. É contista nato e autor de tramas narrativas que misturam o suspense e até mesmo a morte de uma forma insólita e sagaz. Em torno da produção dele, há duas fases básicas: a impressionista, em que ele faz o registro dos sentimentos de forma subjetiva e instável; e a realista, na qual busca um equilíbrio na observação dos fatos em uma análise da realidade. Elas serão abordadas no evento.
Serviço
Centro Cultural Bom Jardim. “Moreira Campos, contista do Ceará”. Convidado: Carlinhos Perdigão.Dia 02 de fevereiro, 15 horas. Rua 3 Corações, 400, Bom Jardim, Fortaleza.
Maiores informações: 85- 34975981.
Evento gratuito.
