O filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938) é considerado o “pai da fenomenologia”. A fenomenologia é o estudo da consciência e da experiência humana. Buscou realizar uma profunda crítica da ciência positivista e da razão objetiva vigentes em sua época. Para ele, é necessário construir um novo método para o conhecimento, devendo adotar uma perspectiva fenomenológica. A fenomenologia é um método para conhecer a essência das coisas e da própria consciência.
Para demonstrar o seu método, Hussel faz uma relação sujeito x objeto. Para ele, o sujeito é subjetivo, estando sempre interligados a consciência e ao fenômeno. O fenômeno é aquilo que aparece à consciência e que só tem sentido quando interpretado por ela.
Já o objeto, segundo o autor, aparece de forma diferente para os diversos sujeitos. Objeto é pura objetividade, podendo ser apreendido pela intuição. Trata-se de um dado absoluto, podendo ser percebido em perspectivas e perfis. Portanto, o significado do objeto é atribuído pelo sujeito, podendo ser identificado pelo modo como se apresenta e se revela ao indivíduo.
Explicado os conceitos acima, buscarei relacionar pensamento de Hurssel com um automóvel Del Rey, da marca Ford, fabricado no ano de 1983, que encontra-se na minha posse desde o ano de 1993, e que nos últimos dias lancei mão dele para me deslocar à Faculdade devido às fortes chuvas que caem em nossa cidade, ficando as minhas bicicletas guardadas na garagem.
No livro I, de O Capital, o filosofo alemão Karl Marx explica a relação das mercadorias com o sistema capitalista. As mercadorias além do valor de uso, possuem valor de troca e prazo de validade, devendo ser substituídas de tempos em tempos.
Relacionando com o bem material em destaque (Del Rey) o objeto, segundo o sistema capitalista e produtor de mercadorias já deveria ter sido descartado e substituído por não possuir valor de troca. Trata-se de uma mercadoria fora do prazo de validade que precisa ser descartada, substituída de tempos em tempos.
A tese marxista é corroborada por pessoas próximas, até por amigos de longa data: “É um carro “fora de moda” (….) “Vocês deveriam comprar um carro mais novo” (….) “Você não tem vergonha de andar num carro velho desses? Quando estiver nele nem chegue perto de mim, nem te conheço! Eu passo é longe!”. É xingado até francês, quando é chamado de “loreau”.
Entretanto, outro grupo de amigos e familiares defende a restauração, a preservação do veículo, tratando-o como um fenômeno segundo Husserl, como uma forma de preservar memória, como um bem cultural, por possuir uma importância para a família Ximenes. Participou da formação acadêmica dos irmãos, transportando-os para a Universidade. Além disso, participou de momentos importantes do rock e do heavy metal alencarino, ajudando na trajetória das bandas Obskure, Alegoria da Caverna e Os Transacionais.
Além do mais, contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da Associação Cultural Cearense do Rock (ACR) e o seus inúmeros projetos, cujo de maior importância é o Festival ForCaos, que recentemente completou um quarto de século. Também foi pauta de jornais e TVs, bem como participou de filmes cearenses “A outra cova”, dirigido por Roger Capone.
A tese de Hussel sobre a fenomenologia é confirmada pelo antropólogo indiano Arjun Appaduray, conhecido por seus trabalhos sobre modernidade e globalização. É autor da obra “A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural”, publicado em 1986. Appaduray defende que o significado que as pessoas atribuem às coisas deriva necessariamente de transações e motivações humanas, ou seja, de como essas coisas são usadas e circulam. Ao olhar para as coisas como se fossem vidas sociais, o autor fornece uma nova maneira de entender como o valor é externalizado e procurado.
Amaudson Ximenes Veras Mendonça é acadêmico de psicologia do 7º semestre na Faculdade Ari de Sá.