Nesta sexta-feira, 25 de julho, o Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita do cinema brasileiro recebe em seu catálogo oito curtas-metragens premiados, de seis estados diferentes, de gêneros como documentário, drama e terror. A seleção contém, por exemplo, Sideral (2021), ficção científica potiguar de Carlos Segundo pré-indicada ao Oscar de Melhor Curta-Metragem Live Action em 2023, e o documentário piauiense Cidade entre rios (2021), da dupla Leonardo Mendes e Weslley Oliveira, premiado em festivais nacionais e exibido no Pune Film Festival, na Índia. (Foto: Divulgação)
Na mesma data, chega à plataforma a quarta e mais recente temporada de Cada Voz, série original produzida pelo IC com entrevistas de artistas brasileiros de diferentes áreas de expressão, nas quais eles falam sobre os seus processos de criação, suas trajetórias e o tempo atual. Essa temporada se soma às três primeiras, cujos episódios chegaram à IC Play em maio e junho. Com registros gravados em 2023, os episódios trazem relatos, entre outros, do músico paranaense Arrigo Barnabé, do cineasta e ator mineiro Braz Chediak e da cantora baiana Virgínia Rodrigues. Todos têm entre 25 e 26 minutos de duração, acessibilidade em libras e legendas descritivas.
A série Cada Voz é conduzida pelo cinegrafista e fotógrafo Marcus Leoni, com produção da Enciclopédia Itaú Cultural, que abriga os verbetes de todos os convidados. Os capítulos a serem exibidos na plataforma têm formato maior, com trechos inéditos, em relação à versão original, disponível no YouTube da organização.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG, Android TV e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast. Você também pode encontrar conteúdo da IC Play nas plataformas Claro TV+ e Watch Brasil.
Múltiplas narrativas
Sideral (Rio Grande do Norte e França, 2021), de Carlos Segundo, foi o primeiro título potiguar a concorrer à Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes, em 2021, além de ter sido pré-selecionado ao Oscar de Melhor Curta-metragem Live Action em 2023. Ambientado no futuro, o filme mostra o Brasil se preparando para lançar o primeiro foguete tripulado para o espaço a partir da Base Aérea de Natal, no Rio Grande do Norte. Enquanto a população comemora, a faxineira Marcela, que mora próximo ao local, tem sua rotina transformada por sonhos e realidades, o que a leva a tomar uma decisão inesperada.
Com uma fotografia marcante em preto e branco, a ficção científica explora temas como a invisibilidade social e a busca por um futuro melhor. Apesar de não ter levado o Oscar e a Palma de Ouro para casa, a obra arrematou vários prêmios em festivais no Brasil e no exterior, como o Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas, no Rio de Janeiro, o Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, o Chicago International Film Festival, nos Estados Unidos, e o Hong Kong International Film Festival.
No documentário Sertão, América (Piauí, 2023), de Marcela Ilha Bordin, desenhos rupestres questionam a teoria sobre a entrada do homem no continente americano. O filme, rodado em 16mm, aborda as tensões na criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no sertão piauiense. Com uma estética que valoriza a aridez, a beleza local e os sons da natureza, a obra explora as implicações da existência do parque, da conservação histórica à presença de populações, animais e vegetais.
O curta-metragem (sub)urbana (Santa Catarina, 2023), dirigido por Vini Poffo, acompanha Luara, uma mulher preta e trans que sonha com o teatro enquanto trabalha em uma fábrica. O filme explora a arte como uma forma de expressão que vai além das palavras, abordando as dificuldades que mulheres pretas e trans enfrentam na sociedade. Em 2024, a produção foi premiada na categoria Revelação no IV TRANSFORMA – Festival Internacional de Cinema da Diversidade de Santa Catarina.
No terror cearense Estilhaços (2021), a diretora Gabriela Nogueira apresenta uma jovem artista plástica que é atormentada por um coelho macabro. Sem saber o que é verdade, coragem ou insanidade, a protagonista luta para impedir que seus pesadelos se concretizem. A delicadeza da narrativa do filme contrasta com o horror, e a direção de arte remete ao álbum Dollhouse (2014), da cantora estadunidense Melanie Martinez. No ano de sua estreia, o curta-metragem conquistou o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular no Recifest – Festival da Diversidade Sexual e de Gênero.
O curta-metragem documental Cidade entre rios (Piauí, 2021), dirigido pelo piauiense Leonardo Mendes e pelo maranhense Weslley Oliveira, é uma imersão poética na relação entre os moradores de Teresina com os rios que cercam a cidade. Ele acompanha um jovem, filho de pescadores, inspirado em Mendes e interpretado por ele próprio, em uma jornada pela história da capital, contrapondo o fluxo ancestral das águas e o caos urbano moderno.
De condução precisa e cheia de afeto, Cidade entre rios passou por vários festivais nacionais e chegou a ser exibido, em 2021, no Pune Film Festival, na Índia. Entre os prêmios conquistados, destacam-se os de Melhor Curta-metragem Maranhense, Melhor Ator, Direção e Montagem no 45º Festival Guarnicê de Cinema, no Maranhão, em 2022.
Tingo Lingo (Rio Grande do Norte, 2018) resgata a memória e a importância dos vendedores do cavaco chinês, um biscoito doce popular no estado. Ao som do triângulo, que anuncia a chegada dos vendedores, o documentário acompanha três deles, que transitam a pé entre os cenários rural, litorâneo e urbano. O filme é uma viagem repleta de contrastes sensoriais que aborda os desafios da modernização e a importância desses personagens para a identidade cultural local. A direção é de Wallace Santos.
Vindo do Mato Grosso do Sul, o drama De tanto olhar o céu gastei meus olhos (2018), da diretora Nathália Tereza, mergulha na complexidade dos laços familiares e no impacto do abandono paterno. No filme, o pai de Luana e Wagner envia uma carta, após anos de abandono. O filho acredita que o pai possa ter mudado. A filha, não. As atuações intimistas e a trilha sonora que valoriza o silêncio instigam os espectadores a refletir sobre os sentimentos contraditórios dos personagens. O filme foi indicado para o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2018 e ganhou, em 2017, o Prêmio Canal Curta! e Porta Curtas no 28º Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo.
Por fim, chega à plataforma o curta-metragem Tango (Paraná, 2016), de Francisco Gusso e Pedro Giongo, que foi contemplado pelo programa de apoio à arte Rumos Itaú Cultural. Personagens e cenários feitos a partir de bonecos de papel pintados em aquarela povoam a animação inspirada no conto Um Artista da Fome (1922), de Franz Kafka (1883-1924). Nela, após uma longa seca, uma batata mística surge no Rio Aiatak, e o povo se prepara para o ritual de Tango, o que marcará uma nova era. Feito com a técnica de stop-motion, a animação teve sua estreia mundial no 26ª Animafest Zagreb, na Croácia, e rodou mais de 50 festivais pelo mundo.
Vozes ampliadas
A quarta temporada da série original Cada Voz, que entra na IC Play, começa com a cantora e compositora pernambucana Anastácia, que compartilha os bastidores e os palcos de sua prolífica carreira. Conhecida por sucessos populares, a artista vai além do canto, assinando composições poéticas para nomes como Dominguinhos, Zeca Baleiro e Chico César.
Em seguida, o segundo episódio traz entrevista com o músico Antônio Madureira, integrante do icônico Quinteto Armorial, ligado ao Movimento Armorial do escritor Ariano Suassuna (1927-2014). Madureira revela como marcou uma época ao propor uma música erudita brasileira com raízes populares. Suas composições inovadoras uniram instrumentos clássicos, como violino e flauta, a sons rústicos e tradicionais, como rabeca, pífano e berimbau de lata.
Na sequência, o terceiro episódio apresenta o músico paranaense Arrigo Barnabé, que relembra o impacto de seu célebre álbum Clara Crocodilo (1980) e sua parceria com a banda Sabor de Veneno. Ainda, ele reflete sobre o desejo de ruptura com as produções musicais de sua época e como sua infância em um ambiente culturalmente incentivado pela mãe influenciou seu desenvolvimento artístico.
O quarto capítulo é com o cineasta e ator mineiro Braz Chediak. Ele narra seus primeiros contatos com as artes cênicas e sua entrada definitiva no cinema. Ao refletir sobre sua vasta obra, comenta suas influências, como o escritor Nelson Rodrigues, e oferece conselhos valiosos para novas gerações de artistas.
Ainda no campo das artes da cena, o ator, diretor, bailarino e coreógrafo Ciro Barcelos é o protagonista do quinto capítulo. Ele compartilha sua rica trajetória como criador e as parcerias que moldaram sua visão sobre a arte e o papel do artista. Sua entrevista também destaca o risco e a aventura como elementos essenciais da criação, inspirando as novas gerações.
No episódio seis, por sua vez, o diretor Elias Andreato revela sua profunda paixão pelo teatro e o poder de renovação que essa forma de arte proporciona. Compartilhando sua vasta experiência, ele relembra suas primeiras atuações como técnico e ator, além dos caminhos percorridos para consolidar sua carreira.
A atriz santista Renata Carvalho, de marcante presença nos palcos, entende o teatro como um espaço libertário e democrático, por meio do qual busca transformar o mundo à sua volta. No sétimo episódio, ela reflete sobre a representação de pessoas trans e travestis nas diversas linguagens artísticas, promovendo novos olhares e narrativas.
Fechando a temporada, a cantora baiana Virgínia Rodrigues relembra seus primeiros passos em corais religiosos e sua trajetória artística, marcada pela espiritualidade de sua música. Ela ainda aborda suas turnês na Europa, sua passagem pelo Bando de Teatro Olodum e a inesquecível parceria com Caetano Veloso no álbum Sol Negro (1997).
